Homens tem ótimo gosto em mulheres
não é miraculoso a capacidade masculina de escolher ótimas mães para o seus filhos de forma mágica? 🤩
opa, tudo bem? uma news por aqui após um longo longo tempo. talvez a mais visceral e sincera de todas, sobre um assunto que vira e mexe me gatilha, mas que, com palavras, fica tudo melhor processado e entendido. será que consigo destrinchar esse sentimento pra você também?
esse texto é sobre a crueldade escondida atrás do máxima: “escolha bem o pai dos seus filhos”
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Quantas vezes a gente é atravessada pela sensação de carregar, sozinha, a responsabilidade por quem escolhemos pra ser pai dos nossos filhos?
Evito até usar a palavra escolha aqui. Porque, apesar de acreditar, incentivar e admirar mulheres que escolhem de forma planejada e consciente quem será o pai dos seus filhos… nem sempre essa escolha, de fato, existe.
Nem vou me aprofundar aqui em gravidez não planejada, métodos contraceptivos que falham, relações que parecem uma coisa e depois se revelam outra. Mas vamos combinar que isso acontece. Acontece muito. Gravidez que não estava nos planos, caras que eram ótimos companheiros e se mostram péssimos pais. Tá, beleza. É isso.
A situação em si — o término, o relacionamento ou seja lá o que for — não é o foco desse devaneio doloroso e sincero. É o que restou, o que ficou de tudo — a vinda da nossa amiga, a maternidade.
E, sim, vamos ser sinceras: a palavra arrependimento cabe, sim, como a apropriada em certos pedaços desse sentimento. Não ela em sua totalidade, mas, em partes, ela descreve muito bem o que é se sentir encurralada numa situação da qual você se sente 100% responsável por estar. Se tiver uma outra palavra melhor, usemos ela, mas, por enquanto, sentimento lá longe o gostinho dela nessa mistura confusa de sentimentos.
E esse é um sentimento que eu preciso administrar o tempo inteiro. Me lembrar, repetir pra mim mesma: “Ei, querida, isso não é sua culpa.”
Mas é difícil se perdoar e relevar toda a situação quando você tá no olho do furacão materno. Quando se vê na encruzilhada cruel do tipo: “Você não pode sair pra trabalhar porque tem uma criança, mas precisa de dinheiro.” Ou então: “Esteja presente na vida das amigas, da família, mas arranje alguém pra ficar com seu filho pra você ter um tempo pra você.”
Situações aleatórias que te fazem pensar simplesmente: “Como eu cheguei aqui?”
Às vezes é no meio de uma birra avassaladora, na preguiça de acordar pra levar a criança na escola, no cansaço das atividades repetitivas, na falta de vontade de brincar. Do nada o gosto amargo vem, acompanhado do azedume de lembrar que a pessoa feita para, supostamente, dividir essa carga com você está longe de sentir o peso que você sente. Muuuuito longe. Injusto, solitário, cansativo.
Meu antídoto, o que corta o gostinho azedo desse tipo de pensamento, é lembrar da seguinte frase, letra por letra:
✨ Eu não sou culpada pelo comportamento de seu ninguém ✨
Sabe quando alguém que você ama faz uma escolha péssima, e você sabe que não podia fazer absolutamente nada pra impedir? Porque, literalmente, você não move os braços e pernas dessa pessoa? Então.
Agora estende esse raciocínio para o pai/genitor. Sem a parte do amor, apenas a parte de não ser responsável pelas escolhas, braços e pernas dessa pessoa. Entendeu a lógica?
Você não tem NADA — eu repito, NADA — a ver com quem ele escolheu ser.
O caráter dele, as escolhas dele, a responsabilidade dele, são competências dele. Da consciência dele. Da moral dele. E escolha é um campo sagrado — sendo ela ruim ou boa, cada uma com a sua.
Eu costumo dizer que se nem um filho muda uma pessoa, talvez só a morte de alguém muito amado consiga. Do nascimento à morte, essas são as maiores chances que uma pessoa tem para mudar.
Então não, não é culpa sua que ele seja um pai ruim. Você não escolheu mal. O mundo AMA fazer mulheres se sentirem 100% responsáveis por absolutamente TUDO, toda hora. A culpa materna é um nicho inventado e muito lucrativo.
Mas, vamos, apenas por um momento, fingir que essa lógica existe? Você realmente escolheu pessimamente mal 🫵
Seguindo essa ideia, seria certo dizer então que ele deveria receber os créditos por ter “escolhido” uma mulher incrível pra ser mãe do filho dele? Se você escolheu mal por ele ser um pai ruim, isso quer dizer que ele escolheu bem porque você é uma ótima mãe? 😃
Claro que não. Sua boa maternidade é um mérito exclusivamente seu.
Da mesma forma que ele não tem um pingo de mérito por tudo o que você faz…Você também não tem culpa nenhuma por tudo o que ele não faz. Faz sentido, né?
Por que você seria responsável pela péssima paternidade dele, se ele não tem nenhuma influência na sua ótima maternidade?
E, na mesma lógica, nenhuma mãe solo deveria carregar consigo a responsabilidade alguma sobre o pai que eles escolhem ser. É o mesmo peso, a mesma medida.
Se dizem por aí que escolhemos mal, então quer dizer que os homens, aparentemente, têm um gosto impecável ao escolher mulheres.
De alguma forma miraculosa, homens péssimos escolhem mulheres ótimas para que elas, de certa forma, sejam competentes o suficiente para que eles não precisem se preocupar em descerem de seus palcos onde eles saem, trabalham, festejam e “pegam todas”. Realmente, para se viver uma vida livre de responsabilidades, uma outra pessoa precisa estar “preso” a elas. Afinal, alguém precisa cuidar das crianças, não é mesmo?
Não é novidade que as mulheres são essas mãos atadas às responsabilidades, enquanto os homens de ótimo gosto aproveitam as regalias provindas de sua ótima escolha que os isenta do peso do cuidado.
(E pra que esse peso? Eu também queria uma pessoa ótima, dedicada, competente, cuidadosa e carinhosa cuidando da minha filha 24h por 7 dias da semana de forma interrupta, deve ser realmente UAAU, LIBERTADOR E MARAVILHOSO TER FEITO TAMANHA ESCOLHA, UMA BELA FAÇANHA, NÃO CONTAVAM COM A MINHA ASTÚCIA 😃)
Ao pai, a responsabilidade vira opcional quando o filho já está sendo muito bem cuidado por uma mulher muitíssimo bem escolhida por ele. E, consciente ou não, isso dá o aval para que a sociedade como um todo dê mais uma estrelinha dourada para os homens e, mais uma vez, joguem todo desgosto e olhares tortos para a mulher.
De uma forma não literal, homens recebem sim os parabéns e tapinha nas costas pela ótima escolha da mãe de seus filhos. Esse tapinha vem disfarçado de “uau, ainda bem que você está sempre livre para trabalhar”, coisas assim.
Em nome das regalias dadas à eles graças ao trabalho feminino, um pai ausente não aguentaria UM DIA - ou apenas algumas horas - na pele da mãe dos próprios filhos dele.
Não ir pros rolezinhos porque precisa ficar com a filha. Faltar o trabalho por doença da criança. Abrir mão de sentar com os adultos pra passar horas na brinquedoteca. Acordar cedo pra levar na escola. Se preocupar com alimentação, tarefas, consultas, medos, choros, imunidade, lavagem nasal, roupas perdidas, noites sem dormir Ver desmoronar sua vida profissional, pessoal e social e ter que reconstruí-la, dia após dia porque, droga, elas estão sempre caindo.
Meu Deus… ele não aguentaria.
E com isso eu digo: façamos o que está em nosso controle, nos livrando de culpas que não são nossas, porque ninguém em sua total sã consciência escolheria isso. Saber disso basta e é o basta para dedos apontando, nem que esses próprios dedos sejam os seus.
Talvez o mundo não esteja preparado para as múltiplas e cruéis realidades que existem fora da bolha do casal perfeito com seus filhos.
E é aquela velha história: um “pai solo” é incrível, uma mãe solo é problema.
Uma gravação de uma mãe acalentando seus três filhos para essa reflexão terminar de ressoar por aí:
Excelenteee S2