boas mães não sabem de tudo (e tá tudo bem) ❤️🩹
como assumir que não sei de tudo fez de mim uma mãe melhor
2 textos em uma semana para alguns queridos inscritos. isso sim é rir na cara da autossabotagem. constância em nossas paixões, quando se é uma mãe ocupada, é revolucionário.
Se você não é assinante dessa newsletter, te convido a se inscrever para ler as perspectivas de uma mãe solo sobre o mundo, sobre ela mesma, a vida e sobre maternar. Aqui é um papo cabeça, leve e aleatório sobre maternidade com um cafézinho enquanto as crianças brincam, sabe? 🤍
esse texto é sobre:
recuar do posto da “mãe sabe tudo” para aceitar que filhos tem muito a nos ensinar
ouvi um rapaz no ônibus falando um plano mirabolante sobre o que a mãe deveria fazer pelo bem do próprio negócio. pelo o que eu entendi, era um salão. ele, todo disposto a ajudar e até aprender a fazer escovinha, deu uma bronca imaginária na mãe por ela aceitar fiado de vez em quando: “quando eu falar com ela eu vou falar assim: ‘pô mãe fiado não, nem pra amiga, nem pra mim se eu pedir’”, disse ele, para um colega ao lado.
fiquei me perguntando se depois de um tempo é assim, nossos filhos se sentem mais inteligentes que nós e um papel meio doido de ensinar a viver se inverte.
eu também sinto que preciso ensinar minha mãe as vezes. a não guardar comida destampada na geladeira, a não entrar com os sapatos da rua em casa.
mas vira e mexe eu, como mãe, ainda me pego achando que sei de tudo. minha pressa em tentar provar que sei de tudo é um reflexo do meu medo de errar.
minha filha me ensina a não errar - tanto - com ela, sobretudo na forma que ela é tratada.
se eu falo num tom mais alto ela já fecha a carinha de 3 anos, com todas as suas pequenas coisas franzidas e diz: “não glita comigo”.
ela delata para Deus e o mundo quando eu chamo a atenção dela. aos prantos, ela me denuncia. me sinto uma criminosa, mas honestamente espero que ela fique assim, gritando aos 4 ventos quando sentir que não foi tratada devidamente porque é crucialmente isso que todas as mulheres devem fazer por si mesmas. gritar.
eu não me perdoaria se eu apagasse isso dela porque essa conta iria vir depois, não pra mim, mas pra ela. não me perdoaria se eu visse ela se tornando uma people pleaser (pessoa que vive para agradar outras), como eu mesma fui por muito tempo.
alimentar a voracidade dela me faz reavivar a minha também. mas uma das formas de minar isso nela seria, com certeza, achar que só eu tenho a razão, que apenas eu estou certa e que ela deveria sim aceitar o que eu falo, a todo custo e a todo momento.
imagina viver assim?
por isso, quando mentalizo a mãe que eu quero ser, me vejo em uma posição de “estar disposta”.
disposta a escutar
disposta a voltar atrás
disposta a reconhecer
disposta a pedir desculpas
lógico que isso não se aplica para tudo, porque afinal, eu sou a adulta da relação e crianças precisam da segurança e direcionamentos que só um adulto pode dar. mas entendo que estou na posição de aprender da mesma forma que estou na de ensinar também.
As melhores mães são aquelas que se permitem serem eternas aprendizes enquanto compartilham seus saberes e junto com suas crias ampliam suas descobertas. Errar, falhar, não saber e se perder ao pegar a trilha errada faz parte da aventura sem GPS que viemos aqui viver
o trecho acima é da querida Verbena, da newsletter Vagarosa, que escreveu lindamente sobre a arte de estar na posição do aprendiz e se permitir ser vulnerável para assumir aquilo que ainda não sabemos, mas gostaríamos de aprender - considere essa recomendação uma leitura complementar a esse assunto porque tem tudo a ver.
de fato, devemos estudar e aprender a criar os nossos próprios filhos. devemos também escutar o amor, a voz que vem de dentro, o instinto e a intuição que só nascem e se nutrem com a convivência. mas sem jamais esquecer que são os filhos quem são os nossos maiores professores sobre eles mesmos e que sim, eles estarão com a razão em muitos situações ao longo das nossas vidas.
mesmo quando a situação é uma menina de apenas 3 anos te ensinando a ser uma mulher mais “histérica”. eu, no auge dos meus 26, me vi querendo ter a força da voz e coragem da minha pequena para falar suas denúncias. que mundo, não?
eu não sei se isso faz sentido para você, mas eu estou bem assim. sempre achei que o pedestal da “mãe sagrada que sabe tudo” um ideal pesado de se carregar. uma personagem difícil de interpretar, porque eu não sei de tudo sobre nada. nem sobre mim direito. pra quê diabos eu quero fingir que sei? se eu sei que não sei de tudo, então pra quê me forçar a estar nessa posição?
ser a mãe que saí de uma sabedoria individual e autoritária para uma que realmente se coloque a disposição para aprender com o próprio filho é a minha versão de uma boa mãe.
(ainda bem que o rapaz do ônibus, apenas um filho comum, quer pegar nas mãos de sua mãe para ensiná-la a impor os limites que ela precisa em seu salão. ainda bem).